Governança clínica é uma estratégia focada na modernização e entrega de valor em estabelecimentos de saúde.
Esse modelo de gestão coloca os serviços ofertados no centro das decisões tomadas pelos gestores do hospital ou clínica, reforçando ações de fidelização dos clientes.
Isso inclui atividades desafiadoras, como monitorar a jornada do paciente em ambientes complexos como os hospitais.É comum que o doente tenha contato com diversos atores e sua experiência seja influenciada por uma série de variáveis desde a entrada na unidade de saúde.
Acolhimento, conforto e atendimento na recepção são alguns dos fatores subjetivos capazes de impactar a assistência de forma positiva ou negativa.
A governança clínica também engloba quesitos objetivos como tempo de espera, triagem de pacientes e desperdício de recursos materiais.
Como surgiu o conceito de governança clínica?
O conceito de governança clínica surgiu na década de 1990, fundamentado na modernização do NHS (National Health System), que é o sistema de saúde pública do Reino Unido.
A revisão de pontos essenciais para uma boa assistência em saúde levou ao fomento de boas práticas, consolidadas por meio de um modelo de gestão voltado à qualidade dos serviços.
Nesse cenário, o próprio NHS define governança clínica como:
“Um sistema através do qual as organizações são responsáveis por melhorar continuamente a qualidade dos seus serviços e a garantia de elevados padrões de atendimento, criando um ambiente de excelência de cuidados clínicos”.
Bem-sucedido no Reino Unido, o conceito se espalhou rapidamente por outros países, começando por nações como Austrália e Nova Zelândia.
Em seguida, outros territórios de língua inglesa e diferentes idiomas passaram a adotar o modelo.
Para que serve a governança clínica?
O investimento em governança clínica qualifica os serviços de saúde, permitindo sua avaliação e evolução constante.
Para tanto, se vale de premissas de áreas como gestão da qualidade e governança organizacional para otimizar e aperfeiçoar processos.
Além, é claro, de corrigir falhas que impactam na impressão deixada ao paciente.
O objetivo é construir ambientes organizados, com fluxos de trabalho eficientes – ou seja, que aproveitem ao máximo os recursos disponíveis.
Quando existe governança clínica, é possível diminuir o desperdício de materiais, tempo e dinheiro, preservando a saúde financeira dos hospitais.
Afinal, estabelecimentos de saúde não deixam de ser empresas e, como tais, precisam dar lucro.
Tendo acesso a ferramentas, educação e processos adequados, as equipes médicas e demais colegas são capacitadas para oferecer o melhor serviço, buscando a excelência no dia a dia.
Também há a adoção do chamado cuidado coordenado, que empodera cada funcionário, parceiro e cliente para que exerçam seu papel em prol do sucesso nas práticas de saúde.
Quais são os pilares da governança clínica?
Assim como qualquer outro modelo de gestão hospitalar, a governança clínica é implementada através de premissas incorporadas à rotina da instituição.
Neste espaço, falo dos sete pilares que sustentam a estratégia.
Tomei como base este material da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) sobre o tema.
1. Auditoria clínica
A análise, avaliação e gerenciamento de processos hospitalares estão na raiz da governança clínica.
Isso porque as mudanças realizadas no NHS partiram da necessidade de restaurar a confiança no sistema, que passou por escândalos que ameaçavam sua imagem perante a sociedade britânica.
A fim de reverter a situação, auditorias clínicas foram agregadas ao contrato dos trabalhadores do NHS, permitindo a avaliação contínua de suas atividades e resultados.
Os serviços de saúde são avaliados por organismos independentes, a partir de padrões pré-estabelecidos, com suporte em evidências e apoio da alta gestão dos hospitais.
2. Gerenciamento de risco
A percepção de que toda ação tem riscos e que as melhores escolhas consideram riscos calculados é fundamental para a governança clínica.
Esse preceito deve nortear as atitudes de profissionais em todos os níveis hierárquicos, influenciando gestores para que planejem cada passo dos serviços de saúde.
Médicos precisam ter a gestão de riscos em mente na hora de prescrever um tratamento, por exemplo, optando pela terapia com melhor benefício e menor risco ao paciente.
Quando implementado, esse sistema viabiliza a identificação, análise e correção de problemas que prejudicam a assistência ao paciente.
3. Efetividade e eficiência
Embora sejam usadas como sinônimos algumas vezes, efetividade e eficiência têm significados diferentes.
A efetividade se refere ao resultado do trabalho, que tem como meta o bem-estar do paciente.
Quanto mais efetiva uma ação se torna, mais positivo é o desfecho para o cliente.
Já a eficiência se refere ao custo-benefício dos procedimentos e fluxos de trabalho.
O que engloba o uso das ferramentas corretas em cada caso, redução no tempo de espera, otimização do diagnóstico e tratamento etc.
4. Comunicação assistencial
Ruído, falhas na comunicação e informações desencontradas estão por trás de diversos erros no atendimento ao paciente.
Esses problemas na comunicação deixam uma sensação de descaso, por exemplo, quando o cliente ou acompanhante precisam informar os mesmos dados repetidamente, a cada etapa de sua jornada no hospital.
Também podem colaborar para equívocos na administração de medicamentos, conflitos entre funcionários e pacientes e até demora para socorrer doentes críticos.
Daí a necessidade de construir ou implantar sistemas de comunicação eficazes para os setores e serviços de saúde.
Um exemplo é a triagem de pacientes por cores, que permite priorizar casos graves e simplifica sua identificação por todos os colaboradores.
5. Responsabilidade e transparência
A confiabilidade de uma instituição depende da transparência, pois só com acesso aos dados e avaliações é que será possível construir relacionamentos com parceiros e clientes.
Dentro de uma unidade de saúde, a transparência deve servir como valor para qualificar a assistência clínica, tornando as informações evidentes para a comunidade.
Esse processo contribui na promoção da responsabilidade profissional de diferentes categorias da área da saúde, desde médicos até funcionários da enfermagem, nutrição, fisioterapia, entre outros.
Montar uma estrutura que permita a avaliação de sua performance auxilia na governança clínica.
6. Gestão de pessoas
O modelo de governança clínica só funciona quando há engajamento das pessoas envolvidas na assistência.
Nesse contexto, é importante comunicar as responsabilidades de cada uma com clareza, respeitando o interesse e opinião do paciente.
No entanto, as boas práticas começam nos processos de gestão de pessoas empregados pelo hospital, que devem prezar pela equidade em todos os setores.
O que é um desafio e tanto, dadas as disparidades na formação, objetivos, alta especialização e falta de visão sistêmica por parte das lideranças.
7. Pesquisa operacional
O propósito da pesquisa independente é revelar detalhes da rotina e fluxos de trabalho, mostrando diferenças em relação às diretrizes do hospital.
Esse pilar é relevante porque evidencia a realidade das instituições, permitindo trabalhar os pontos de melhoria e reforçar as estratégias bem-sucedidas.
Campanhas de conscientização podem ser feitas para divulgar boas práticas de higiene, como a simples lavagem de mãos antes e depois do contato com o paciente, por exemplo.
FONTE: telemedicinamorsch